Arquivo para Carlos Alberto Silva

Carlinhos merecia ganhar

Posted in Mural, O mundo cruel with tags , , , , , , , , , on 24/08/2009 by andreifonseca

Acompanhei pouco o programa A Fazenda, da Record, (ou Big Brother Rural) mas torci muito para o Carlinhos ganhar. Fiquei contrariado com a vitória do Dado Dolabella. Custei a acreditar que o Brasil o havia escolhido.

Assisti a poucos episódios, mas o resumo do que eu vi foi um ator (mentado) bad boy que enfurecia por qualquer coisa, um consultor de etiquetas que usava uma manta (ou pashmina) ridícula, uma morena bonitinha e raivosa que xingava as pessoas, um playboy poeta e um gênio de humor, super-talentoso, que superou terríveis adversidades.

Possivelmente, um fã assíduo da Fazenda deve achar o meu relato sem embasamento, afinal ele deve ter acompanhado todos episódios. Até posso concordar com ele, mas eu tinha coisa melhor pra fazer.

No final, quando comecei a me envolver levemente com o programa, o cara que eu torcia saiu. Pô, sou fã do Carlinhos. Mais precisamente do Carlos Alberto Silva, humorista de 29 anos. Um cara que teve uma vida duríssima e deu a volta por cima.

Quando era pequeno, Carlinhos sofria com um pai alcoólatra e violentíssimo, uma mãe submissa e ausente e irmãos que eram passivos com surras constantes. Um dia, ele cansou dessa tortura física e psicológica e tomou uma decisão difícil: rompeu laços familiares e foi morar na rua.

Anos mais tarde, em um abrigo para crianças carentes, Carlinhos viu chegar um carro da Jovem Pan e pediu um “emprego na rádio, que era o sonho de infância” para a passageira do automóvel, que era a esposa do dono da emissora que ajudava o abrigo. Levou.

Trabalhou como porteiro na Jovem Pan e, um dia, fez uma imitação que encantou o Emílio Surita. O chefão o convidou para participar do Pânico no rádio. O sucesso foi tão grande que Carlinhos ficou, com seu personagem símbolo, o Mendigo. Fez um patcha sucesso. Merecido.

Além do Mendigo, Carlinhos fazia vários personagens no Pânico. A imitação do Serginho Malandro era fantástica, ainda mais no quadro Salci Fufu, quando ele ia com dançarinas, fogos de artifício e uma banda para portas de quartos de motel e fazia um escândalo, surpreendendo casais.

Um cara como ele, que não teve base cultural nenhuma, tem uma capacidade impressionante de fazer piadas. Um talento natural. E é um grande imitador. Saiu da jovem Pan e foi para a Record, depois foi parar no reality show. Assim que saiu da Fazenda, Carlinhos reencontrou a mãe e uma irmã. Foi emocionante.

Porém, nosso herói ficou em terceiro. Ganhou o músico e ator (segundo seu blog) Dado Dolabella. Mesmo assim, não merecia levar. Um cara que agride a namorada, quebra cenário em programa de TV e discursa ridiculamente sobre poesia, retórica e comportamento humano não pode ser o vencedor em detrimento de pessoas como o Carlinhos.

Foi a preferência do público, fazer o que? Ao me questionar porque ele havia sido escolhido, pensei no Senado. Ahá! Entendi tudo agora.

….

No fim das contas, posso dizer é que a Record foi ousada, achou um mote interessante para reality show, mas copiou descaradamente a Globo em muitas coisas. A começar pelo deslocamento de um jornalista de renome para apresentar o programa e dar discursos poéticos e dúbios na hora das eliminações.

Achei divertido ver beldades da TV de porre às sete da manhã ordenhando vacas, molhando hortas e cuidando de cabras. Aliás, para não cometer injustiça, o Dado foi o único que levantou um dia para fazer o trabalho sozinho