Que todo edifício ou condomínio tem nome, não é novidade. Mas o meu chama-se Royal Gate. Forte, não? Possui uma fachada imponente, lembra um prédio nova-iorquino. Por dentro, segue o estilo de Downtown Manhattan, com lofts amplos e confortáveis.
Quanto ao perfil de moradores, podemos sintetizar em solteiros, afinal todos apartamentos são de um quarto. Os detentores de coberturas duplex têm a possibilidade de fazer um segundo dormitório.
Mas fora esse charme todo, é um prédio com muitas peculiaridades. As pessoas que lá trabalham são claramente orientadas para serem extremamente sérias e imparciais. Mas, comigo pelo menos, não durou muito.
Logo que me mudei, um dos porteiros foi extremamente educado comigo. Solícito, prontificou-se a me ajudar, ofereceu número de tele-entrega, explicou sobre os esquemas do prédio e tal.
Achei a atitude dele extremamente profissional, mostrou ser bem treinado. Dias depois, me chamou no elevador e ofereceu a esposa como faxineira, dizendo que ela trabalhava em vários apartamentos ali. Beleza.
Fachada do meu prédio, na visão do colega Rômullo
Já o outro cara que fica na portaria é diferente. Mais quieto, sorri pouco, cumprimenta, me chama de “senhor Andrei” e parece ser uma pessoa reservada. Julguei que não iria se expor muito. Até que ele me abordou e disse:
– Senhor Andrei. Desculpe incomodar o senhor. Mas eu recolho latas também. Se o senhor usar latas e for jogá-las fora, eu aceito. Não vou ficar rico com isso, mas ajuda.
Beleza. Separarei minhas latas então. O terceiro profissional que fica na portaria é o mais velho. Tem uma postura tranquila, fala pouco também. Um dia, ele não agüentou e largou essa:
– O senhor trabalha na TV, senhor Andrei? Tem uma pinta de artista.
Minha gargalhada ecoou pelo prédio. Depois dessa, ele passou a ser sorridente.
Outra coisa interessante é que o meu vizinho de cima já era conhecido. Aliás, influenciou na minha escolha. Embora nos cruzamos pouco (no bom sentido, claro), vez que outra rola o que chamamos de “cerveja de vizinho”. Aliás, tem uma marcada para semana que vem.
Lembrei agora que, na segunda-feira, pensei ter ouvido cantos gregorianos no corredor. Estranho. Nunca tinha acontecido. Será que tem fantasma no prédio? E tem um cara que sai para correr às sete da manhã e sempre volta quando eu estou indo trabalhar. É um senhor que não fala nada, mas usa aqueles calções da copa de 70. Fico segurando o riso no elevador.
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Coca-Cola 2L no bazar: R$ 2,50
Bandeja de cachorrinhos quentinhos da padaria da esquina: R$ 31,00
Entrar em uma reunião importante com esses dois itens, ser aplaudido, contar piada e ainda mostrar o vídeo da Anabela de Malhadas: não tem preço!
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Será?
Será que hoje vai chover?
Será que eu comprei carne suficiente?
Será que a cerveja já gelou?
Será que o Inter ganha do Santos na Vila Belmiro pela primeira vez na história?